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Bloqueios, Inibições ou Censuras à Criatividade de Grupo: Perfis Ásperos

Atualizado: 4 de ago. de 2020


criatividade, design, ideação, colaboração
foto por: @morningbrew


Artigos Críticos: Bloqueios Criativos em Grupo


Como eu costumo dizer nos meus textos, termos não contextualizados geram confusões, porém não deveria ser assim. Ao que se refere à criatividade enquanto campo do saber, isso não é diferente. Embora aqui o problema maior em discussão não seja esse, e sim a opinião. A opinião poder ser mais crucialmente negativa do que a má aplicação de um termo, ou a não contextualização do mesmo.


Em uma breve análise denotativa, alguns dicionários definem opinião como uma demonstração pessoal em relação à algo ou alguém, uma avaliação ou um modo de pensar bem definido. A sensação que dá, é que a humanidade estipulou a opinião como uma maneira autenticada de expressar um pensamento, de comunicar, de pôr em prática a cognição (aprendizagem) diante de outros indivíduos.


De antemão percebe-se, que as corporações ajudaram a disseminar esse modelo mental, mas não apenas elas, no entanto, provavelmente todas as instituições que por alguma razão enxergam vantagem na fragmentação em detrimento a soma: de ideias, de forças, de pensamentos, de intenções, etc. A opinião, portanto tornou-se necessária fonte de auto-validação e auto-afirmação.


O problema maior disso tudo, é que a opinião não funciona muito bem em grupo quando o objetivo principal é na verdade gerar ideias e não avalia-las. Alex Osborn, o criador da técnica de geração de ideias em grupo, Brainstorming, já defendia nos anos 1950 que se "uma ideia fosse julgada previamente", ela provavelmente inibiria (constrangeria), outro membro do grupo criativo a se expressar novamente, e ter o risco de ser tido por "ignorante". Em 1970, Edward de Bono fala sobre o "medo", e como ele é geralmente fomentado em reuniões de tomada de decisão, seja ela criativa ou de deliberações mais pontuais, limitando processos criativos de times. Nota-se que o impacto da opinião não é de hoje, porém Humberto Mariotti disse que "tornou-se um hábito" social.



Perfis de Indivíduos Anti Criatividade



Alguns perfis de pessoas podem ser facilmente percebidos nas cotidianas reuniões de soluções de problemas em grupo. Esses perfis que "minam" a criatividade alheia, eu gosto de chama-los de "arquétipos subversivos". Os mais comuns são cinco, entre eles: o perfil bloqueador (aquele que simplesmente impõe sua ideia), o perfil analisador (aquele que julga detalhadamente as ideias), o perfil consentidor condicional (aquele que sempre lança mão de um "mas..."), o perfil negativista (aquele que nega a possibilidade da ideia ser factível), e por fim, o perfil dominador (aquele que fala excessivamente). Repara-se o quanto a opinião é relevante no papel que esses perfis exercem em reuniões.



Logogramas Arquétipos Subversivos à Criatividade (CAMILLO, 2020)

A - Bloqueador

B - Analisador

C - Dominador

D - Consentidor Condicional

E - Negativista


Outro ponto que fica evidente em relação à opinião é o quão importante ela é para dar força aos arquétipos subversivos. Sem a opinião expressa de maneira contundente, latente ou até camuflada, os perfis anti criatividade não podem operar com facilidade.


Quem nunca viu algum membro de uma reunião impedir de maneira explícita ou sutil outros membros da reunião? Ou, quem nunca se deparou com indivíduos super analíticos que gastam muito tempo explotando uma ideia ao invés de explorar novas?


Na maioria das empresas com estrutura hierárquica bem definida, os participantes de uma criação colaborativa podem experienciar uma diminuição por parte do chefe. Quando o ambiente é muito horizontal e pouco treinado criativamente, é possível que o constante uso da negatividade para sugestões feitas sejam frequentes. No entanto, o perfil mais comum na nossa cultura, e talvez o mais danoso seja aquelas concordâncias com aparência de "boa vizinhança", quando na verdade sempre acrescentam poréns.



Persona
(Perfil Consentidor Condicional) foto by: @jiggliemon Wilson

O perfil Consentidor Condicional é uma constante nos ambientes colaborativos e, podem produzir verdadeiros "estragos" criativos silenciosos. Provavelmente os outros perfis possam ser mais fáceis de detectar e combater, entretanto esse perfil pode exigir um nível maior de senioridade na competência de moderação.


Autores de criatividade como George Kneller, Calvin Taylor, Eunice Alencar, Keith Sawyer e Myron S. Allen costumam dizer que a criatividade de grupo depende diretamente de um ambiente não analítico e que suspenda temporariamente o julgamento. Todos esses autores, grandes referências no estudo da criatividade orientada desde o início do século XX, fazem questão de enfatizar a relevância de manter a opinião em estado de espera, pelo menos enquanto o objetivo central for gerar muitas ideias inusitadas, ou fazer crescer/amplificar uma reflexão conjunta.



O Designer Mediador



Por vezes, perfis com características inibidoras da criação em grupo (co-ideação), são inevitáveis por diversas razões. Neste caso, se faz necessário um importante personagem que chamo em minhas pesquisas em design de, designer mediador, ou projetador mediador. O designer mediador é responsável por mediar, facilitar e moderar o caminho criativo de um problema projetual. O que inclui reuniões com finalidade de tomar decisões eficazes. Esse "ator", pode ser um designer profissional ou não, contanto que passe por um treinamento profundo, tornado-se um sujeito criador capacitado a lidar com bloqueios criativos diversos.


É importante lembrar que essas situações projetuais e criativas mediadas por um designer mediador são constantes, em inúmeros cenários onde pessoas se juntam para solucionar algo em conjunto, tomar decisões ágeis, ter ideias novas, ou simplesmente confirmar prioridades de uma pauta. Essas situações são familiares e corriqueiras, se fazem presente com grande frequência em quase todos os ambientes interativos de nossas vidas.


Pensar, projetar, criar, decidir em grupo é praticamente a narrativa de todos os seres humanos e, portanto nada há tanto valor quanto bloquear aquilo que impede a criatividade emergir. Em outras palavras, bloquear os bloqueios criativos. Um bom designer mediador pode ser capaz de gerar grandes benefícios a um grupo.


Quando se trata de negócios, o designer mediador potencializará seus recursos (homem/hora). No caso de um ambiente hospitalar, o designer mediador reduzirá riscos (tempo). Em circunstâncias relativas à educação, o designer mediador trará ponderação (despolarização).


Há recursos em termos de métodos que são inerentes ao designer mediador, táticas, técnicas e ferramentas que envolvem códigos verbais, orais, faciais e corporais que permitirão uma comunicação efetiva. Assim como os participantes podem bloquear uns aos outros com os mesmos códigos, incluindo o gutural (ruídos da garganta), os mediadores podem utilizar a seu favor.



Vulnerabilidade Criativa


A vulnerabilidade criativa é um estado de incapacidade ou debilidade projetual e criativa. Ocorre em qualquer cenário onde se faz necessário gerar ideias/soluções criativas em grupo. Dificuldades de interação sugestiva.

Os perfis arquétipicos subersivos provocam o que chamo de "vulnerabilidade criativa", um estado quase permanente, onde pessoas não conseguem se mover a fim de "saltar" para um patamar efetivo e relevante alusivo à criatividade em grupo. Isso enfraquece corporações, amplifica discussões perpétuas, estimula polarizações, e por consequência mantém instituições, seja lá qual forem seus objetivos, sem sofrer transformações contínuas necessárias para promover um melhor bem-estar dos usuários.


Martin Buber, David Bohm e Humberto Mariotti falam que problemas complexos devem ser lidados como tal, utilizando as competências criativas por meio do pensamento complexo, aquele que lida tanto com visões binárias (isso ou aquilo) quanto com visões sistêmicas (onde se vê o todo) ao mesmo tempo.


Lidar estrategicamente com essa visão dual (binário vs sistêmico), permite que um indivíduo criativo se converta em um sujeito criador capaz de alterar realidades, combata as opiniões bloqueadoras, e fomente uma fala acumulada e inventiva entre os membros de um grupo gerador de ideias.



medium.com/@mikelaurie

É importante deixar claro que a opinião em si, também não é problema como foi afirmado logo de antemão, mas sim a opinião sendo utilizada na "hora errada". A avaliação por meio da fragmentação, pode ser bem útil do momento em que se precisar definir, decidir e se chegar ao consenso final. Modelos mentais (opinião vs aglutinação) são sempre bem vindos quando se sabe quando e onde utiliza-los. Seja um designer mediador fomentador da criatividade.

Pratique o uso dos modelos mentais nos momentos adequados para cada configuração mental!



Referências ALLEN, Myron S. Morphological Creativity: The Miracle of Your Hidden Brain Power. 8 ed. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1967.

ALENCAR, Eunice Soriano. A Gerência da Criatividade. Abrindo as Janelas para a Criatividade Pessoal e nas Organizações. São Paulo: MAKRON Books, 1996.

BOHM, David. Diálogo: Comunicação e Redes de Convivência. São Paulo: Palas Athena, 2005. BOHM, David. O Pensamento como um Sistema. São Paulo: Madras, 2011. BOHM, David. Sobre a Criatividade. São Paulo: Ed. Unesp, 2011. BONO, Edward de. Conflicts. Harmondsworth: Penguin Books, 1985. BONO, Edward de. O Pensamento Lateral. Rio de Janeiro: Editora Record, 1967. GOMES, Luiz A. V. N. Criatividade e Design: Um livro de desenho industrial para projeto de produto. Porto Alegre: sCHDs, 2011. KNELLER, George F. Arte e Ciência da Criatividade. 15 ed. São Paulo: IBRASA, 1978.

MARIOTTI, Humberto. Pensamento Complexo: Suas Aplicações à Liderança, à Aprendizagem e ao Desenvolvimento Sustentável. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2010. NOVAES, Maria H. A Psicologia da Criatividade. 5 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1980.

SAWYER, Keith R. Explaining Creativity: The Science of Human Innovation. 2 ed. New York: Oxford University Press, 2012. OSBORN, Alex F. O Poder Criador da Mente. 7 ed. São Paulo: IBRASA, 1987. TAYLOR, Calvin W. Criatividade: Progresso e Potencial. 2 ed. São Paulo: IBRASA, 1976.




 
 
 

1 Comment


Tito Senna
Tito Senna
Aug 03, 2020

Texto que bate de frente aos problemas da "pseudo-coletividade". Vale a pena um "parte 2" sobre como amansar perfis ásperos através de um método não destrutivo ;)

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